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Politica

Carta ao Lula – Mídia NINJA

Carta ao Lula – Mídia NINJA

Por Sara Goes
Conteúdo publicado no 247

Presidente Lula,

Meu filho, Luiz Inácio, começou a andar enquanto eu escrevia um alerta que chegou até o senhor . Um andar torto, decidido, lindo, sem saber ainda que o mundo vai tentar impedi-lo. Como o Brasil. O senhor me ouviu . Agora você precisa saber o que está se movendo.

O alerta de que lancei não ficou solto no ar. Ele encontrou eco e resposta. Desde a publicação do artigo, recebi retornos que me reorganizaram por dentro. Mas o mais impressionante não foi repercussão, nem os compartilhamentos. Foi descobrir a imensidão do desejo real de ação. As pessoas querem fazer parte. Querem ajudar. Querem construir. O que parecia um grito solitário virou ponto de partida para algo concreto. Conheci pessoas que já seguiram no caminho, há décadas, agiam sem hesitação e agora se recuperaram. São geniais, honestos, criativos. Vivem no aperto, mas sigam porque acreditamos no seu projeto e queremos um futuro possível.

É nesse cenário que entra uma figura que talvez o senhor ainda não conheça: Antônio Carlos dos Santos Silva, o Mestre TC . Um menino que foi chamado de burro pela professora, mas decidiu escutar o mundo à sua maneira. Não se curvou à lógica da exclusão. Cresceu na periferia de Campinas e fundou a Casa de Cultura Tainã como quem funda um país: com memória, desejo e ferramentas improvisadas. Onde não havia rede, criou conexão. Onde não havia palavra, aparência tambor. Onde não havia Estado, plantou autonomia.

Enquanto muitos ainda discutiam o que é soberania informacional, TC já praticava: rádios comunitárias, redes livres, hortas com wi-fi, bibliotecas digitais, estúdios caseiros que transmitem saberes ancestrais. Tudo feito sem avaliação institucional. Feito porque preciso ser feito, lindo, torto e decidido..

Uma ocorrência ao meu artigo veio também das instituições e dos parlamentares genuinamente específicos em aprender. Um manifesto foi escrito . Uma proposta apresentada .

Mas preciso que você diga uma coisa com toda a sinceridade: seu governo quer falar melhor, quer falar com mais pessoas, mas precisa mesmo é ouvir. E isso é contraditório com tudo o que fez do PT o que ele é. A base é feita de escuta. A tecnologia que enfrentamos hoje não é apenas uma disputa de narrativa, é uma disputa de escuta. E enquanto o senhor fala, quem nos escuta é o algoritmo. E a extrema direita está escutando o povo, até o silêncio dele.

Esse é o ponto. A gente não vence essa guerra gritando mais alto. A gente vence escutando melhor. E com mais radar. Porque se eles têm satélites para ver e ouvir, nós temos que desenvolver formas populares de escuta. Não é só sobre emitir sinal. É sobre captar. Sobre entender as frequências do país profundo antes que sejam capturadas de vez.

Eu preciso do senhor para abrir espaço real para essa construção porque o que está acontecendo agora, no pedaço da internet, nas plantas formas amazônicas , nas bordas da política, não é barulho. É inteligência coletiva. É soberania informacional em estado bruto, antes de ser programa de governo.

O cenário continua perigoso. A Frente Parlamentar de Cibersegurança ( FrenCyber ) cresce em articulação com as big techs, opera com método e recursos. A bancada do like já entendeu o funcionamento da guerra híbrida, e não está jogando para perder. As pesquisas confirmam com prazer sádico que mesmo com a economia melhorando, os mais pobres e os mais jovens, justamente os mais expostos à manipulação algorítmica não reagem de forma esperada. As plataformas operam como potências transnacionais, moldando o imaginário coletivo e sabotando o voto com estética, dados e reprodução.

O evento de Fortaleza foi apenas a primeira vitrine. Mas não será a última. E é por isso que precisamos estar à altura. Porque apesar do medo, do cansaço e da responsabilidade imensa que sinto com tudo isso, eu vi uma coisa que não esperava. Vi um país inteiro se movendo, silenciosamente, com firmeza e inteligência. Vi gente se encontrando sem precisar de estrutura. Vi resistência em estado bruto, em estado de semente.

Eles são muitos, mas não podem voar. Nós podemos. E já começamos. O senhor precisa saber que estamos organizando nosso voo.

Em Paris, o senhor contou que não se pronunciou para George W. Bush porque ninguém havia se levantado para o senhor. Aquilo foi soberania em forma de gesto. Naquele momento, o senhor representava todos aqueles que nunca foram esperados. E foi nesse lugar que eu me vi, junto daqueles que andam do jeito que dá, de um jeito torno, lindo e decidido.

O senhor conhece o seu lugar, como Belchior cantava, conhece profundamente. A recusa à lógica das plataformas que nos querem obedientes, enquanto elas moldam desejo, ódio e voto. E talvez, se o senhor escutasse o Mestre TC, essa conversa entre o menino que não se curvou à professora e o operário que não se curvou ao império pudesse mudar o rumo do país. Vocês podem desenhar juntos uma costura entre ferida e dignidade, entre silêncio e palavra. Porque se o menino construiu uma casa onde o saber é coletivo e o operário sentou-se à mesa dos chefes sem se curvar, a hesitação vira passo. O susto vira estrada.

Agora é hora de caminhar juntos do jeito que dá, torto e lindo. O senhor vem conosco?

Fonte: midianinja.org

Publicado em: 2025-06-12 15:00:00 | Autor: <span>NINJA</span> |

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